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AGROVILA VERTICAL URBANA

           Projeto Modelo para transformação de prédios comerciais e residenciais urbanos em agrovilas verticais – sustentáveis e autossuficientes (com produção agrícola natural e orgânica) adequando as edificações existentes aos sistemas sustentáveis (energia solar, sistema biodigestor e aproveitamento das águas pluviais). Transformação parcial dos pavimentos das construções multifamiliares verticais e dos prédios comerciais, com criação de áreas para cultivo e instalações de sistemas de sustentabilidade.

 

1.    INTRODUÇÃO

        O projeto Agrovilas Verticais Urbanas, iniciado em 2016, objetiva a transformação de uso de imóveis residenciais e comerciais em áreas de cultivo agrícolas, adequando-os a sistemas de sustentabilidade e autossuficiência. As unidades habitacionais serão disponibilizadas para a concessão gratuita a indivíduos que se encontrem em situação precária de moradia ou trabalho, bem como para a venda a interessados, no caso de imóveis localizados em zonas nobres da cidade. A iniciativa é promovida pela empresa Aquagismo (http://www.aquagismo.com.br/), voltada para a pesquisa e implementação de métodos de aproveitamento de águas pluviais, e é conduzida pela Arquiteta Ingrid Guimarães Leitão, que possui mais de 33 anos de carreira e experiência no campo da arquitetura e do urbanismo, tendo participado do desenvolvimento do projeto da Agrovila de Iranduba (AM), em colaboração com o Arquiteto Antonio Leitão.



        O projeto possui caráter urbanístico, e vem buscando apoio e patrocínio junto a instituições públicas, organizações privadas, e redes de financiamento coletivo. Os segmentos que poderão ser atendidos consistem em: possíveis residentes com capacidade de adquirir unidades habitacionais em áreas de alto poder aquisitivo da cidade; indivíduos que se enquadrem em uma situação de precariedade habitacional e econômica; e jovens interessados em obter treinamento e conhecimento em técnicas agrícolas de cultivo e princípios de sustentabilidade. Em um estágio inicial, potenciais moradores que não possuam plena independência financeira, poderão morar nas unidades residenciais sem custo, mediante a realização de cursos de agricultura e implantação de sistemas de sustentabilidade, voltados para o cultivo de itens produzidos na própria Agrovila Vertical Urbana, o que além de lhes proporcionar educação técnica e oportunidades no mercado de trabalho, também poderia ampliar sua capacidade de atuação profissional.



        Inserida na tradição de estudos iniciada pelo físico Cesare Marchetti – que já em 1979 previa um “frenesi” (frenzy) (Marchetti, 1979, p. 1113) em torno do cultivo de itens agrícolas em espaços fechados, atinente com a perspectiva de cidades modernas, planejadas para ampliarem o bem-estar de seus habitantes – e definida em parte pelo conceito de “fazenda vertical”, cunhado pelo biólogo Dickson Despommier, da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. Segundo estudos de Despommier, aproximadamente 150 prédios de 30 andares cada, capazes de produzir frutas, verduras, legumes e grãos, e contando com sistemas de purificação de águas residuais e geração de energia limpa, seriam capazes de alimentar a cidade de Nova Iorque, por completo, durante um ano (Charmberlain, 2007). O projeto das Agrovilas Verticais Urbanas também irá se apoiar em algumas das alternativas apresentadas pelo modelo de uma cidade-floresta consciente vertical (denominada The Link), desenvolvido pela firma Luca Curci Architects. Além de se identificar com as análises de Marchetti e Despommier, o projeto Agrovilas Verticais Urbanas dialoga com projetos propostos por Le Corbusier (1887-1965), em 1922 definidos como “immeubles villas”, grandes imóveis coletivos com residências dotadas de jardins internos, pensado pelo arquiteto como uma alternativa para dirimir os efeitos provocados por surtos epidêmicos de tuberculose, em fins de 1910. Pensar em moradias urbanas dotadas de espaços verdes, era considerar questões de isolamento social e, sobretudo, de necessidade de purificação da atmosfera, permitindo maior produção de oxigênio em áreas fechadas.

        Para além de aspectos teóricos – atrelados ao campo da arquitetura e do urbanismo – o projeto Agrovilas Verticais Urbanas visa responder a questões e demandas que vêm se tornando fundamentais e urgentes nas grandes cidades do país. Nos últimos anos, grandes centros urbanos brasileiros como Rio de Janeiro e São Paulo, vêm enfrentando um crescente fenômeno de esvaziamento e abandono de imóveis verticais (de natureza residencial e comercial), juntamente com um alto déficit habitacional. De acordo com um estudo realizado por uma das maiores empresas brasileiras de gestão de condomínios, durante a pandemia do novo coronavírus, de um total de 40 mil imóveis comerciais ocupados, na cidade do Rio de Janeiro, 2,46% perderam seus inquilinos em abril de 2020, com o número subindo para 2,84% em maio e 3,06% em junho (Coelho, Neto, Justo, Carapelli, 2020). No entanto, ainda que esses dados apontem para um fenômeno associado a efeitos da pandemia, a situação anterior à mesma não destoava de maneira considerável: em janeiro de 2020, a taxa de desocupação de imóveis comerciais na cidade do Rio de Janeiro era de 1,01% (Coelho, Neto, Justo, Carapelli, 2020). Este fenômeno já podia ser percebido, no mesmo município, um ano após a realização dos Jogos Olímpicos de 2016: na ocasião, em cada dez imóveis comerciais, quatro já se encontravam vazios (Jornal Nacional, 2017). No que concerne à questão do acesso à moradia no país, um levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que o déficit de moradias aumentou 7% em apenas dez anos, de 2007 a 2017, chegando a 7,78 milhões de unidades habitacionais, com um crescimento de 220 mil imóveis apenas entre 2015 e 2017 (Gavras, 2019). Nesse sentido, o projeto Agrovilas Verticais Urbanas foi pensado como uma maneira de: reduzir prementes índices de desigualdade socioeconômica; ampliar indicadores de ocupação imobiliária – de maneira a incentivar a demanda junto a este setor; oferecer potenciais soluções para questões urgentes como a necessidade de redução da poluição no perímetro urbano; melhorar a qualidade dos legumes, frutas e verduras distribuídos comercialmente no Brasil, mediante o incentivo à produção natural e orgânica – nas Agrovilas Verticais Urbanas, a produção será planejada em larga escala, mas estará assentada sobre um modelo baseado em pequenas hortas e unidades agrícolas, que permitirão um cultivo e uma colheita realizados com esmero e, consequentemente, produtos dotados de maior qualidade e sabor, diferentemente  do atual modelo brasileiro de monocultura de exportação, o qual se vale de agrotóxicos, transgênicos e adubos – de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil foi um dos países que mais intensificou o consumo de agrotóxicos, o qual aumentou quatro vezes entre 1991 e 2015 (Moraes, 2019, p. 19); adequar as construções a sistemas de sustentabilidade, gerando assim autossuficiência produtiva; assistir na criação de redes de colaboração não apenas entre indivíduos envolvidos com a produção agrícola, mas entre unidades produtivas e municípios; permitir diálogos interdisciplinares entre técnicos e acadêmicos de diversos campos (arquitetura, engenharia, agronomia, urbanismo, nutrição), que serão contratados para o desenvolvimento do projeto.


        Vale ressaltar que o projeto das Agrovilas Verticais Urbanas tem como um de seus intuitos assistir no fortalecimento, disseminação e consolidação de técnicas de cultivo baseadas na agricultura natural, não utilizando agrotóxicos ou adubos. Iniciativas voltadas para a agricultura natural, vêm se destacando, nos últimos anos, em países como Brasil, Portugal e França, entre as quais se encontram a Associação da Grande Natureza (AGRAN), com sede em Caconde, no estado de São Paulo, e em Guaramirim, no estado de Santa Catarina, e a Société Civile d'Exploitation Agricole Koorin (SCEA-Koorin), com atuação na França, no Parc naturel regional du Gâtinais français, localizado em Milly-la-Forêt, e em Portugal, na região de Pedras Rubras, Porto. Além de representar um modelo de produção agrícola em expansão – a nível mundial – a agricultura natural, ao prescindir do uso de agrotóxicos, adubos e sementes transgênicas, representa a possibilidade de realização de práticas de plantio e cultivo de baixo custo econômico e impacto ambiental, podendo ser praticada mesmo em ambientes fechados e por pequenas unidades produtivas, contribuindo na redução dos efeitos nocivos causados pelo aquecimento global e pelo uso indiscriminado de substâncias químicas no campo, como a contaminação de solos e corpos d’água.



        Ainda que o projeto das Agrovilas Verticais Urbanas consista em uma inciativa de transformação de uso e adequação de imóveis a sistemas sustentáveis, também contará com algumas diretrizes, que serão implementadas em todas as Agrovilas Verticais Urbanas: ampliar a iluminação e a ventilação naturais nas unidades habitacionais; inserir placas solares, afim de que a energia dos imóveis provenha de fonte inteiramente renovável – com possibilidade de instalação de sistemas eólico, nas coberturas em que tal método de geração de energia se mostre adequado; construir espaços verdes de cultivo em pavimentos e/ou unidades individuais, onde se darão o cultivo e colheita de itens agrícolas, produzidos predominantemente dentro do sistema de agricultura natural, sem o uso de agrotóxicos ou adubos; instalar biodigestores nas hortas, para utilização dos resíduos do cultivo; construir redes de captação, reserva e filtragem de águas pluviais; instalar sistemas de purificação das águas servidas, antes destas serem esgotadas. Nosso intuito com tais medidas é permitir que as unidades habitacionais se tornem modelos de sustentabilidade, autossuficiência ambiental e de produção agrícola natural, representando alternativas urbanísticas para grandes centros urbanos, em um momento no qual estes enfrentam dilemas estruturais, associados aos efeitos do aquecimento global, do aumento de índices de poluição e da necessidade de melhoria da qualidade de vida (com fins de saneamento e higiene públicas) e de redução das desigualdades socioeconômicas, encontrando-se atinente com as medidas da Agenda 2030.

O Projeto foi apresentado no Observatório de Políticas de Comunicação e Cultura
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade - Universidade do Minho
22 de julho no PolObs

Projeto no facebook: https://www.facebook.com/ods11projetosbrasil

Projeto no youtube: https://www.youtube.com/channel/UCXYH-nF9y-9R-D6fuUonvkA/videos

2.    OBJETIVOS

• Transformar e adequar edificações residenciais e empresarias (conjuntos de escritórios) em Agrovilas Verticais Urbanas, sustentáveis e produtivas.• Humanizar os grandes centros urbanos, adequando as construções existentes aos sistemas de sustentabilidade.
• Oferecer moradia de baixo custo para indivíduos interessados (que atualmente habitem em áreas desprovidas de infraestrutura, saneamento básico e segurança), juntamente com aprendizado técnico e oferta de trabalho na produção agrícola e instalação de sistemas de sustentabilidade.
• Oferecer moradias com aspecto de sítios verticais, para aqueles com maior poder aquisitivo, que desejem uma vida rural sem se afastar dos benefícios dos centros urbanos.
• Oferecer ao produtor rural a opção de expansão de seu conhecimento técnico, em um espaço para prática de métodos de cultivo modernos, adequados ao perímetro urbano e à realidade de espaços verticais.
• Melhorar a circulação de ar, higienização solar natural dos ambientes, diminuir a emissão de CO2, e ampliar iluminação natural dos espaços urbanos. • Gerar novas formas de produção e distribuição de alimentos naturais cultivados em pequena e média escala. Tanto pelo cultivo quanto pelo plantio serem realizados no perímetro urbano – em um espaço planejado para a ocupação de um número considerável de indivíduos – não seria permitida a utilização de agrotóxicos ou adubos. Dessa forma, as Agrovilas Verticais Urbanas poderiam assistir na consolidação de métodos agrícolas naturais, os quais contribuiriam para a ampliação do conhecimento técnico de agricultores, gerando a redução dos preços de alimentos naturais, por meio da ampliação da oferta.
• Reduzir custos de transporte de produtos agrícolas orgânicos e naturais – que passariam a ser produzidos no perímetro urbano, e não mais apenas nos cinturões verdes que cercam cidades brasileiras ou em regiões distantes dos grandes centros urbanos.
• Reduzir índices de fome e subnutrição, considerando-se que a disseminação de Agrovilas Verticais Urbanas não apenas viria a representar uma alternativa social e produtiva para segmentos que enfrentam risco de precarização econômica, mas também por permitir uma maior oferta, e subsequentemente, uma potencial redução dos preços de alimentos (legumes, frutas e verduras) no mercado.
• Assistir na geração de maior autonomia econômica e produtiva a indivíduos que se encontrem desempregados e/ou em condições precárias de moradia e trabalho.
• Atender, através das Agrovilas Verticais Urbanas (muitas das quais existirão enquanto sítios verticais urbanos, com espaços abertos para vistas panorâmicas da cidade do Rio de Janeiro) aos anseios daqueles que desejam ter a vida do campo sem abrir mão das potencialidades e confortos das grandes metrópoles.
• Evitar potenciais êxodos urbanos (saída de grande número de indivíduos, provenientes das metrópoles, em direção às áreas rurais), que tenderiam a aumentar o índice populacional de estados agrícolas e pequenos municípios brasileiros, os quais ainda não dispõe de infraestrutura urbana capaz de receber um considerável influxo de novos residentes. 

3. JUSTIFICATIVA:

Nos anos 80 houve um crescimento exponencial, junto ao mercado imobiliário, de empreendimentos e construções voltadas para implantação das empresas, as quais buscavam visualização e reconhecimento através de suas localizações físicas. Com o advento da internet nos anos 90, tiveram início novas formas de divulgação e apresentação das empresas, alterando-se layouts e reduzindo a necessidade de amplos espaços físicos. Nos anos 2000, o número de empresa tornou-se incalculável e websites tornaram-se o ambiente preferencial das empresas. Outras alternativas surgiram, dentre elas a principal foi a prática do “coworking”, por meio da qual empreendedores e organizações privadas valiam-se dos mesmos espaços físicos em conjunto. Em 2020, após a Pandemia mundial do novo coronavírus, que exigiu a adoção de medidas isolamento social, constatou-se a eficiência do sistema de home office e muitas empresas agora dispõem apenas de ambiente virtual. Após cinco meses de quarentena, observa-se um enorme aumento da oferta de salas comerciais, para aluguel e venda, nos grandes centros urbanos, com prédios dispondo de andares inteiramente desocupados, e uma crescente busca por residências com áreas externas (varandas e quintais), aumentando, assim, a procura por casas de campo. O quadro que se apresenta, dificilmente retornará a conceitos anteriores referentes a formas de ocupação de espaços físicos por empresas. Desta maneira, adequar gradativamente os grandes centros urbanos ao sistema de construções sustentáveis e produtivas, a partir de seus inúmeros edifícios comerciais, faz-se premente. Ampliar a oferta de imóveis residenciais, que garantam a subsistência de seus moradores e melhoria da qualidade de vida para todos na cidade pode parecer uma utopia, mas acreditamos que muitos já anseiam por isso. Nossa proposta é de criar grupos multidisciplinares com o objetivo de estudar e planejar essa adequação no mais curto espaço de tempo possível, a partir de 2 protótipos na cidade do Rio de Janeiro. Um em um prédio comercial no Centro da cidade e outro em prédio residencial na zona sul do Rio de Janeiro. O projeto das Agrovilas Verticais Urbanas detém, portanto, como seus objetivos finais contribuir para a melhoria da qualidade de vida, representada entre outros fatores por um meio ambiente preservado, recuperado, e produtivo, adequar gradativamente as construções à paisagem natural, à higienização e à sustentabilidade, e garantir a produção de alimentos naturais/orgânicos e a autossuficiência das edificações produtivas. 

“Toda construção, real ou virtual, só tem razão para ser edificada quando obedece ao exemplo da própria natureza.”

 

REFERÊNCIAS

Marchetti, Cesare. “10 to the 12th: A check on the Earth-carrying capacity for man”. Energy. Vol. 4. Great Britain: Pergamon Press, pp. 1107-1117

Chamberlain, Lisa. “Skyfarming”. New York, Nova Iorque, 30 mar. 2007. Disponível em: https://nymag.com/news/features/30020/

Coelho, Brenda; Neto, Dejair; Justo, Fred; Carapelli, Karol. “Pandemia do coronavírus provoca aumento da desocupação de imóveis comerciais no Rio”. G1, 20 jul. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/20/pandemia-do-coronavirus-provoca-aumento-da-desocupacao-de-imoveis-comerciais-no-rio.g.html

Gavras, Douglas. “Déficit habitacional é recorde no país”. Estadão conteúdo, / UOL, 07 jan. 2019. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/01/07/deficit-habitacional-e-recorde-no-pais.htm?cmpid=copiaecola

“Mercado de imóveis comerciais no Rio bate recorde de desocupação”. Jornal Nacional, Rio de Janeiro, 06 de dez. de 2017. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/12/mercado-de-imoveis-comerciais-no-rio-bate-recorde-de-desocupacao.html Acesso em: 29 de ago. de 2020.

Luca Curci Architects. “THE LINK - A ‘conscious’ city-forest for 200,000 people”, 2020. Página inicial. Disponível em:  https://www.lucacurci.com/portfolio/the-link-city.html Acesso em: 28 de ago. de 2020.

Moraes, Rodrigo Fracalossi de. “Agrotóxicos no Brasil: padrões de uso, política da regulação e prevenção da captura regulatória – Texto para discussão”. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, 2019.

 

Projeto apresentado no Polobs baseado em dados da Cidade do Rio de Janeiro de 2016 a 2021


 


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