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The Japan Architect, september-october, 1971.
Uma das mais importantes revistas de arquitetura do século XX, a The Japan Architect contou, em sua edição n.178, de setembro-outubro de 1971, com texto do japonês Kenzo Tange. O renomado arquiteto apresentava as conclusões de um grupo de estudos, voltado para a previsão e descrição de um projeto urbanista japonês do século XXI, em um esforço intelectual que desperta fascínio e convida ao questionamento: o que aqueles homens da década de 1970 esperavam do futuro das grandes cidades, e em que medida suas previsões se realizaram ou se tornaram advertências? Entre os elementos que guiaram a abordagem de tais técnicos e urbanistas encontrava-se a visão de que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento e funcionamento da cidade e da nação eram a energia, a informação e o lazer.
Através deles, seria possível reverter um processo de consumo desenfreado das matérias-primas e reduzir a poluição do meio-ambiente, assegurando ainda maior qualidade de vida para uma população que, previa-se, passaria a desejar o específico, e não mais o objeto (a casa, o espaço, a atividade) produzido em massa. Entre as soluções apresentadas para uma megalópole como Tóquio, sobre a qual profetizaram que passaria a enfrentar um aumento constante no trânsito de pessoas e de carga, encontrava-se a construção de uma rede de túneis e a preferência por uma rede de transportes subterrânea e elevada, valendo-se da operação conjunta de sistemas de trilhos, estradas e vias fluviais – propostas de extrema relevância para metrópoles de países em desenvolvimento, como as brasileiras, ainda flageladas pela parca condição dos transportes urbanos. Porém, a proposta mais ousada talvez fosse a de valorização do tempo-livre, como parte integrante da experiência em sociedade. De forma a assegurar o lazer, tornando-o elemento orgânico da vida em uma megalópole, os arquitetos envolvidos propõem a criação de “Cidades de tempo-livre”, cujo caráter seria determinado por condições históricas, naturais, culturais e cênicas de cada localidade.
Complexo em sua análise e acessível em seu texto, o estudo sobre o Japão do futuro apresenta questões de extremo relevo, não só para o arquiteto interessado na história de seu campo profissional, mas também para o técnico e para o urbanista preocupados em encontrar soluções para os problemas decorrentes de um crescimento urbano desenfreado.por Alexandre Enrique Leitão
The Japan Architect – 166 / Agosto-1970
Inúmeros países asiáticos foram historicamente influenciados pela tradição confucionista da “piedade filial”, que prioriza a unidade familiar e estabelece a obrigação dos filhos de zelarem respeitosamente por seus pais idosos. Com o passar das décadas, entretanto, o Japão testemunhou o aumento da parcela de seus cidadãos de terceira idade, que subiu de 5% nos anos 1950 para 11% em 1989. A preocupação para com o tratamento e a moradia de idosos inspirou um padre francês, atuante em terras japonesas, a construir, em 1970, um novo tipo de asilo, que prezasse pela responsabilidade socioambiental: o Lar para Idosos Akatsuki, localizado em Osaka, um dos temas abordados pela revista .
Próximo das Colinas Senri, o Lar Akatsuki havia sido planejado pelo pároco francês de forma que não destruísse o habitat natural à sua volta. Construído na forma de arco, o condomínio para idosos foi erguido sobre pomares e campos de bambu, comuns na região. Evitou assim a terraplanagem que poderia, de acordo com a publicação japonesa, descaracterizar a região e, no longo prazo, aumentar a incidência de deslizamentos de terra. Contrapondo-o à estrutura da EXPO ‘70, feira internacional realizada também em Osaka, o redator de The Japan Architect se vale do Lar Akatsuki para tecer críticas ao evento, por este haver removido “sem misericórdia” a flora local.
Outro diferencial do projeto se deu na sua forma de financiamento, dividido em quatro partes: ¼ do orçamento foi constituído por subsídios da Prefeitura de Osaka; ¼ por empréstimos; ¼ por contribuições; e ¼ por capital privado. O redator da matéria atribui a ampla cooperação entre governo, iniciativa privada e sociedade civil ao entusiasmo e boa vontade do padre, que conseguiu contagiar todas as partes envolvidas e incentivá-las a bancar a realização de um lar sem fins lucrativos. Com corredores iluminados, quartos, uma capela, e ampla vista da natureza de Osaka, o redator de The Japan Architect acredita que a principal lição a se extrair do Lar Akatsuki reside no fato das limitações financeiras, determinantes na realização do projeto, terem assistido na criação de um design forte, baseado em materiais baratos e na simplicidade, afirmando: “abundância de riqueza e poder nem sempre significam uma arquitetura do mais alto calibre”.
texto: Alexandre Enrique Leitão
Architectural Record, Julho, 1982
Na revista Architectural Record, de julho de 1982, apresenta-se uma edição eclética, que tem como a análise da Capela William R. Cannon, no estado norte-americano da Georgia, planejada pelo arquiteto Paul Rudolph, mesclando elementos modernos a uma temática religiosa, e a entrevista da arquiteta Denise Scott Brown, um dos mais importantes nomes da arquitetura contemporânea no século XX. Atenção ainda para o prêmio de melhores unidades multifamiliares de 1982, no qual a revista prestou homenagem àqueles que considerou serem os melhores projetos de casas e prédios habitacionais do ano.
texto: Alexandre Enrique LeitãoL’Architecture d’Aujourd’hui – Construções Esportivas da Atualidade
Em junho de 2013, milhões de brasileiros foram às ruas protestar. O que de início se mostrou um movimento contrário ao aumento das passagens de ônibus, logo se transformou em uma demonstração coletiva de frustração para com a precariedade dos serviços públicos e da infraestrutura brasileira. Dando base ao clamor dos manifestantes, encontrava-se a crítica ao que seria a excessiva quantia de verbas públicas destinada à construção de estádios, tanto para a Copa das Confederações de 2013 quanto para a Copa do Mundo de 2014. Muito se questionou também o chamado “padrão Fifa”, que estabelecia um novo desenho para templos do futebol como o Maracanã. Agora, depois de concluídos ambos os torneios, novos questionamentos são dirigidos aos gastos e aos impactos urbanísticos causados pela realização dos Jogos Olímpicos de 2016, destinados a ocorrer na cidade do Rio de Janeiro.
Longe do que se poderia supor a preocupação com a construção de arenas e estádios desportivos já se encontra presente na edição de número 76 da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, lançada em 1958, centrada no tema “Construções Esportivas da Atualidade”. Com fotos, plantas e dados de estádios e arenas, a revista conta com fotos e dados concernentes a construções dos mais diversos países: EUA, Áustria, Colômbia, Itália, Polônia, Japão, entre outros. Além de atender ao interesse que o tema deve ter despertado em arquitetos de todo o mundo, em meio à Copa de 1958 (a primeira a ser ganha pelo Brasil), a edição fazia ainda referência aos Jogos Olímpicos de 1960, que seriam sediados dali a dois anos em Roma.
Para tanto, entre os inúmeros projetos analisados, a presente edição figura o Estádio Olímpico de Roma, projetado como uma abóboda futurista por Annibale Vitellozzi.
É importante frisar o quanto este número de L’Architecture d’Aujourd’hui comprova o impacto do estilo modernista na arquitetura dos anos 1950, quando desenhos arrojados, reminiscentes, por exemplo, dos prédios públicos de Brasília, eram utilizados mesmo no traçado de arenas esportivas. Nota-se também o desejo de se construir estruturas econômicas, como o já mencionado Estádio Olímpico, pensado para congregar provas de ginástica, esgrima, basquete e tênis. Porém, um dos grandes trunfos da edição é a presença do nome de um brasileiro: o arquiteto Ícaro de Castro Mello (1913-1986), referência nacional em planejamento de estádios.
Entre muitos de seus projetos L’Architecture optou por conceder espaço em suas páginas ao Ginásio de Bauru, construído entre 1952 e 1953, e ao Ginásio do Ibirapuera Constâncio Vaz Guimarães (atualmente chamado Estádio Ícaro de Castro Mello), além de figurar o projeto, então em execução, do Setor de Esporte da Universidade de São Paulo (USP), formado por estádio, piscina, campos de futebol, quadras de tênis, e outras instalações. Tanto o Ginásio de Bauru, quanto o Ginásio do Ibirapuera continuam de pé, atestando o brilhantismo e qualidade demonstrados pelo trabalho de Castro Mello. Dessa forma, a edição 76 de L’Architecture d’Aujourd’hui consegue não só resgatar a obra de um importante nome da arquitetura nacional, mas também responder às mais recentes preocupações de arquitetos e urbanistas brasileiros, associadas ao fato do país ter passado a integrar o circuito internacional dos megaeventos esportivos.
Alexandre Enrique Leitão
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